Encontro de mercados e culturas

  • Um pouco de história

    O estudo dos ventos, as viagens de Marco Polo e a cartografia florentina do Século XV, impulsionaram as viagens empreendidas por Cristóvão Colombo à procura de rotas alternativas rumoa um distante Oriente.

    Ocorre que não foram apenas os estudos acadêmicos que trouxeram para América os primeiros marinheiros transatlânticos. Foi a procura por reduzir custos para importar as especiarias e a seda procedentes da Ásia e, portanto, interesses econômicos, que motivaram as expedições da época.

    A curiosidade científica para a expansão do comercio e a satisfação de necessidades socioeconômicas continuam vigentes no Século XXI, centúria em curso na qual as comunicações tornaram-se instantâneas e o acesso ao conhecimento e aos bens de consumo materiais e imateriais encontra mais uma vez um facilitador no avanço da tecnologia.

    Assim como a invenção da bússola no Século IX foi instrumento fundamental para o posterior início das grandes navegações, a imprensa de tipos móveis criada por Gutemberg deu impulso a uma revolução na transmissão do conhecimento e na democratização do seu acesso.

    O túnel do tempo e algumas formulações de Roger Chartier sobre a história do livro e da escrita nos transportam para a investigação de outro salto tecnológico com o advento do texto eletrônico, a leitura em telas de computador e demais dispositivos da era digital.

    Os mercados hoje

    Na atual cartografia mundial – diferente daquela do Século XV –, a América aparece em toda sua extensão geográfica e potencial econômico.

    A adesão da Espanha à Comunidade Econômica Europeia em 1985, somada ao ciclo de crescimento que a sucedeu, estimulou um fortalecimento salutar de sua economia a partir da produção de conhecimento, de tecnologia, bens em geral e de bens culturais em particular.

    Com sólidas bases estruturais conseguiu superar a crise mundial iniciada em 2008 e retoma seu ciclo de expansão nesta reta final da década iniciada em 2010.

    Num mundo hiperconectado, a Espanha e o Brasil, tal como corresponde a todo estado moderno, continuam atentos às possibilidades de internacionalização dos bens e serviços produzidos nos seus respectivos territórios.

    Em ambos os países, o poder público desenvolve políticas de estímulo às exportações destinando verbas importantes para que as indústrias criativas – entre elas a indústria editorial –, afirmem sua presença internacional gerando divisas e contribuindo para o fortalecimento das respectivas identidades culturais.

    No campo da produção literária provavelmente Federico García Lorca, pela Espanha, e Jorge Amado, pelo Brasil, foram os autores mais representativos de ambas as culturas durante o Século XX.

    Ambos revelaram para o mundo a alma de cada um dos seus povos.

    De um lado o poeta andaluz com suas peças dramáticas, microscópios de uma sociedade à época machista e autoritária.

    Do outro, o baiano com seus personagens alegres, espontâneos e transgressores, típicos da terra do homem cordial.

    Que dizer então de Carlos Ruiz Zafón e Paulo Coelho, best-sellers consagrados. De María Dueñas ou de Clarice Linspector. De Machado de Assis ou Miguel de Unamuno?

    No entanto, nesta segunda década do século em curso basta uma atenta leitura de alguns indicadores para notar que ainda existe um longo caminho a se percorrer no que diz respeito ao encontro destas culturas.

    Na Espanha, as traduções de livros respondem por um 13,4% da produção local, sendo apenas 0,9% as traduções do português e 51,7 % as do inglês. (Panoramica de la edición española de libros – Ministerio de Educación, Cultura y Deporte – Año 2015)

    No Brasil, somente 73 obras de autores espanhóis foram traduzidas para o português e registradas pela FFLCH/USP.

    Neste âmbito de mútuo intercâmbio atuam a Subdirección General de Promoción del Libro, la Lectura y las Letras Españolas, do citado Ministério, assim como o ICEX – Instituto de Comércio Exterior do Ministerio de Comércio, indústria y competitividad.

    • Apoiam a presença de autores espanhóis em feiras internacionais, universidades estrangeiras, associações de hispanistas e em centros do Instituto Cervantes.
    • Concedem subvenções para a tradução e edição de obras de autores espanhóis, sejam elas científicas ou literárias, a qualquer língua estrangeira.
    • Apoiam a promoção exterior do Setor do Livro espanhol através de subvenções e da presença de autores em Feiras Internacionais do Livro.
    • Colaboram com o Centro Regional para el Fomento del Libro en América Latina y en el Caribe (CERLALC) – UNESCO
    • Promovem a internacionalização de empresas espanholas.

    Do lado brasileiro, como espelho, identificamos as ações da Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro com o programa de incentivo às traduções de autores brasileiros, da comissão de feiras internacionais no Ministério das Relações Exteriores e da agência APEX de estímulo às exportações em parceria com a Câmara Brasileira do Livro mediante o projeto Brazilian Publishers, visando a internacionalização da produção local.

    Espanha é o quinto produtor de livros da Europa e oitavo do mundo com 79.397 ISBNs inscritos em 2015 e tem registrado um crescente nível de concentração na oferta: 12 editoras privadas publicaram mais de 700 títulos e 1.460 editoras publicaram quatro ou menos títulos/ano.

    Segundo a publicação Comercio interior del libro da Federación de Gremios de Editores de España, que inclui os dados sobre remuneração de direitos autorais, se comparada a situação de 2015 com a de anos anteriores, pode-se constatar o aumento do índice de concentração da produção: em 2013, 5,7 % dos editores publicaram 62,8 % dos livros; em 2014, 4,7 % dos editores lançaram 57,1 % dos livros, e em 2015, 59,6 % dos livros foram publicados pelo 4,4 % dos editores.

    Ainda analisando a Panorámica de la edición española, os dados de 2016 apontam para um crescimento da ordem de 48,2 % nas traduções do português para o castelhano com 1.113 títulos contemplados.

    Cabe resgatar aqui uma informação importante oferecida pelo mesmo documento. Em 2015 um total de 242 novas editoras de pequeno porte iniciaram suas atividades na España revelando dessa forma o potencial empreendedor das indústrias culturais.

    Dados mais relevantes

    • O total da produção editorial aumentou 8,3% respeito do ano anterior (passou de 79.397 em 2015 para 86.000), a edição de livros em suporte papel aumentou 6,4% (60.763 livros editados em 2016, perante os 57.117 do ano anterior); a edição em outros suportes aumentou 13,3% (25.237 suportes em 2016, perante os 22.280 de 2015).
    • O número de ISBN inscritos de acordo com o tipo de edição, aumentou 14,9% na edição de caráter público e 7,7% na edição privada, representando em 2016 um 9,6% e 90,4% sobre o total da produção editorial respectivamente.
    • Por subsetores de edição, se registram aumentos em: livros de ciência e tecnologia (26,0%), livro infantil e juvenil (17,7%), em outros (16,8%), criação literária (11,2%) e livros de ciências sociais e humanidades (4,1%); os descensos se registram em: livros de texto (3,5%) e livros de tempo livre (2,5%).
    • A edição eletrônica teve um aumento de 13,3% respeito do ano anterior e representa 29,3%  ISBN inscritos no ano. Os E-book ou livros digitais aumentam 13,5% e representam 93,7% da edição em outros suportes e 27,5% do total da produção.
    • Foram editados em línguas espanholas 91,4% dos livros, destacando a edição em castelhano (85,5%), seguida da edição em catalão (10,0%), em euskera (2,1%), em galego (1,5%) e valenciano (0,8%).
    • As traduções representam 16,1% da produção, destacando o inglês (50,7% da obra traduzida).
    • As comunidades autônomas da Catalunha e Madri representam 60,7% do total da produção, com uma participação de 32,4% para Madri, e de 28,3% para a Catalunha. A seguir aparece Andalucía (14,5%) e a Comunidade Valenciana (8,4%).
    • Com referência à produção privada, 26,4% foi editado por 92 empresas editoriais, que representam 3,0% das que tiveram atividade em 2016.
    • No que diz respeito às exportações de exemplares produzidos na Espanha, o Brasil encontra-se em nono lugar em faturamento com 10.953.000 euros.
    • O saldo da balança comercial – 324,39 milhões de euros – voltou a ser positivo, como é tradicional devido ao caráter exportador do livro espanhol a pesar de ter diminuído 1,42% em relação ao ano de 2014.

    A essas quantidades temos que somar a venda de direitos que, em 2015, foi a 70,6 milhões de euros, um 6,3% a mais em relação com 2014.

    No Brasil, por sua parte, foram traduzidos 5.918 títulos em 2014 e 4.781 em 2015, sendo 310 e 183 do espanhol respectivamente, totalizando 878.362 exemplares em 2014 e 556.935 em 2015.

    Conclusão

    O potencial que ambas as economias apresentam continua vigente e numa análise de médio prazo vislumbra-se a retomada de um moderado crescimento em terras de Cervantes e Gregório de Matos.

    O intercâmbio cultural e as oportunidades de negócios caminham de mãos dadas.

    A reorganização da estrutura produtiva brasileira, a profunda revisão das relações entre o público e o privado, somadas à tênue porém firme recuperação da economia espanhola, constituem a fortaleza indispensável para o planejamento de futuras e mútuas expansões comerciais, industriais e culturais.

    Sendo a tarefa do editor desenvolvida numa jornada de longo prazo, nada melhor que estarmos atentos às ferramentas que possam facilitar informação para o planejamento e a tomada de decisões.

    É neste sentido que o portal Libros de España vem a contribuir com o fluxo dos negócios e a geração de oportunidades de um ecossistema que ainda tem muito campo a ser explorado.

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