Buenos Aires, ‘La Reina del Plata’

Bernardo Gurbanov, presidente da ANL e argentino, faz um balanço da Feira do Livro de Buenos Aires, encerrada nesta segunda-feira (09)

O viajante que aterrissa no Aeroparque à beira do Rio da Prata, encontra em poucos minutos de trajeto rumo à região do Obelisco uma cidade elegante, aristocrática, com praças e monumentos por todo quanto é lado. A arquitetura neoclássica, ora espanhola , ora francesa, ora italiana, impressionam pela sua imponência e refinamento.

Prédios do final do Século XIX e início do Século XX povoam o centro da cidade induzindo o visitante a supor que chegou na Europa, fantasia incorporada não por acaso pelos distintos portenhos.

Durante a primeira metade do Século XIV a educação esteve focada no ensino primário, administrada pelas ordens religiosas católicas que impuseram o uso obrigatório da língua espanhola.

Polémicas históricas aparte sobre imposições e evangelizações, numa época na qual a expressão inclusão social nem passava pela cabeça dos governos de turno, Argentina funda sua primeira universidade em 1613 e desde os seus primórdios a educação foi priorizada alcançando o ápice no processo de construção da cidadania nas décadas de 1860 e 1870 quando fomenta a chegada de professores europeus e norte-americanos para implementar um sistema eficiente e duradouro.

O ensino primário torna-se obrigatório, estatal, laico e gratuito e são construídas milhares de escolas e diversas universidades na capital e nas províncias.

Estas são algumas das pistas para começar a entender a tradição leitora deste povo e a prolífica produção de escritores que a partir do final do Século XIX começaram a derramar uma literatura que acabou transbordando mundo afora.

No Século XXI, tanto ou mais “problemático e febril” como diz o tango Cambalache se referindo ao Século XX, a educação entrou num processo de industrialização e degradação continuada que parece não ter fim e nem é exclusividade dos nossos vizinhos.

Brasil tenta e naufraga há décadas na construção de um país leitor enquanto Argentina, depois de ter conseguido essa meta até pelo menos a década de 1970, parece estar desconstruindo esse país onde todo tempo passado foi melhor.

Mesmo assim, Buenos Aires é ainda a cidade com maior concentração de livrarias por habitante no mundo e também a que ostenta o maior número de psicanalistas e psicanalisados por metro quadrado. Tem até um setor do bairro de Palermo chamado Vila Freud.

Poucos quarteirões separam Vila Freud do centro de exposições La Rural, onde todo ano acontece a Feira Internacional do Livro de Buenos Aires – FILBA.

Durante três semanas um desfile de tipos humanos que superou, em 2016, a marca de 1,2 milhão de pessoas, visita o recinto de 40 mil m² para encontrar seus autores favoritos, descobrir livros inusitados, participar das mais de 1,5 mil atividades culturais, dentre as quais, destacou, nesta última edição, a presença de dois Prêmios Nobel de literatura: o peruano Mário Vargas Llosa e o sul-africano John Maxwell Coetzee.

Mario Vargas Llosa durante a 42ª edição da Feira do Livro de Buenos Aires | © Divulgação

 

Uma festa anual, uma celebração do livro e da leitura que renova as esperanças de reconstruir o paraíso perdido.

[Nota do Editor: a Feira do Livro de Buenos Aires já adiantou a data de sua realização em 2017. Será de 27 de abril a 16 de maio e a cidade homenageada será a americana Los Angeles].

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