De editores y mariachis

Bernardo Gurbanov está no México para a Feira do Livro de Guadalajara e, de lá, manda as suas impressões sobre o evento.

México é um país de contrastes, ou alguém achou que o Brasil detém a exclusividade nessa matéria? Da formalidade engravatada à tradição inevitável dos mariachis. Da tequila incendiária ao sofisticado almoço oferecido pela Grã-Bretanha, país «invitado de honor» na feira do livro. Dos coquetéis servidos em mansões cinematográficas à extrema pobreza. Dos leitores ilustrados ao analfabetismo endêmico, tudo cabe nesta «melange» latino americana.

Profissionais se reúnem no Centro de Negócios da Feira do Livro de Guadalajara | © FIL/Melinda Llamas

Também na Fil-Feira Internacional do livro de Guadalajara cabe todo mundo. Números espantosos, 750 mil visitantes, duas mil editoras, frenéticos fans de uma, para mim, desconhecida senhora americana que escreve para adolescentes. Fila de 2 mil histéricas/os, livro em mãos para conseguir o autógrafo e tirar sua foto junto ao ídolo.

A mesma situação, porém com Ángeles Mastreta, escritora e jornalista mexicana vencedora dos principais prêmios literários no seu país, registra uma fila bem menor de gente comportada e de todas as idades.

Cada um tem os seus ídolos, mas qual será a motivação desses jovens para enlouquecer diante da possibilidade de estar frente a frente com seu autor preferido? Com certeza, esse escritor/a fala por eles. Das suas emoções, suas dúvidas, seus medos, suas inconfessáveis confissões .

Cenas dignas daquela inesquecível apresentação dos Beatles no Yanquee Stadium em 1965. O mesmo fenômeno. Só faltaram os desmaios. Ainda bem. Mundo globalizado este. Já vimos cenas similares nas últimas feiras brasileiras.

Literatura degradada ou uma nova linguagem acorde com a sempre renovada modernidade? Novos leitores e mais livros vendidos, isso é fato. Como sempre afirmo: o melhor livro é o livro vendido. Que desculpem os puristas, mas discurso não paga as contas.

Para os profissionais do setor editorial, outra festa. Regada a infinidade de atividades, fóruns internacionais, homenagens, coquetéis e principalmente oportunidades de negócios.

Autores, ilustradores, agentes literários, bibliotecários, livreiros, editores, jornalistas, tudo junto e misturado.

Desde o glamour dos famosos ao anonimato dos iniciantes, numa discreta porém não menos frenética busca para sobreviver neste negócio a cada dia mais concentrado em menos mãos.

Texto: Bernardo Gurbanov

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