Na Amazônia, sua majestade o leitor

Em sua coluna, Bernardo Gurbanov fala sobre suas impressões da XX Feira Pan-Amazônica do Livro

A XX Feira Pan-Amazônica do Livro aconteceu entre 27/5 e 5/6 em Belém | © Bernardo Gurbanov

Entrada franca. Corredor para organizar a entrada das multidões. Mulheres de um lado, homens de outro. Ansiedade sob o sol úmido de Belém, implacável, demolidor, grudento. Mochilas devidamente revistadas, corpos apalpados, detector de metais e, finalmente, sua majestade o leitor consegue desfrutar do ar condicionado do Hangar, como é conhecido o Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, em Belém, onde aconteceu a XX Feira Pan-Amazônica do Livro entre 27/05 e 05/06. Trata-se, aliás, de um notável projeto arquitetônico da equipe que tem a frente Paulo Chaves, atual Secretário de Cultura do Estado do Pará.
Livros para todos os gostos e todos os bolsos protegidos pela Polícia Militar, Polícia Civil, quase uma centena de seguranças particulares, bombeiros, delegacia do menor, policiais à paisana, ambulatório, um verdadeiro exército para garantir a segurança. Uma condição, nem sempre agradável aos olhos, mas cada vez mais frequente em todo o território nacional, nos grandes eventos. Literalmente, um capítulo à parte.

Eis o território leitor de Belém do Pará, um oásis no meio do deserto urbano, desordenado, de crescimento desigual, aparentemente ingovernável, como a selva e seu ecossistema.

Professores da rede pública do estado comparecem munidos do cartão Credilivro carregado de R$ 200,00 para enriquecer seus conhecimentos e comprar livros exclusivamente nos estandes da feira.

Isso se o sistema funcionasse. Porém, a ineficiente e arcaica tecnologia utilizada pelo Banpará, além de irritar os beneficiários, fez com que muitos deles desistissem de suas compras, diante da perspectiva de perder meia hora ou até mais em uma longa fila para serem atendidos pelos funcionários do banco do estado que, mesmo com toda a boa vontade, acabavam sendo obrigados a concretizar manualmente as operações, já que as máquinas instaladas se recusavam a transmitir os dados.

Uma pena, realmente uma pena, que esta bela e exemplar iniciativa do governo do Pará, incorporada à política de estado pela lei de número 7.775 DE 23/12/2013 fique prejudicada pela falta de uma tecnologia adequada ao século XXI.

Uma homenagem ao Planeta Terra

Os 20 anos da Feira Pan-Amazônica do Livro homenagearam o país de todos: A Terra. Denunciaram as atrocidades cometidas pelo homem como a destruição na Amazônia de aproximadamente 233 milhões de árvores, entre 2008 e 2015. E também a convivência dos seus 24 milhões de habitantes com os menores indicadores sociais do país. O desmatamento atinge aproximadamente 1.600 campos de futebol por dia e, mesmo diante desses números espantosos, a região continua abrigando 50% da biodiversidade do planeta Terra e um terço das florestas tropicais do mundo.

Livrarias? Apenas 4%, das cerca de 3.000 em operação no Brasil, tem sede na região Norte. Diante deste quadro de desalento, resta resgatar a voracidade de conhecimento da população e o bônus do Credilivro que, se complementado pela tecnologia hoje disponível, deveria ser um modelo federalizado pelas autoridades para potencializar as feiras de livros do imenso Brasil.

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