O cordel invisível

Nosso colunista Bernardo Gurbanov foi para Bienal do Ceará e conta tudo o que viu por lá

Expositores da Bienal do Livro do Ceará foram, na sua maioria, empresas locais | © Bernardo Gurbanov

Visível para o povo, invisível para as estatísticas, o Cordel foi o grande destaque de XII Bienal internacional do Livro do Ceará realizada em Fortaleza de 14 a 23 de abril de 2017 no Centro de Eventos do Ceará.

Sob o lema “Cada pessoa, um livro; o mundo, a biblioteca” a Secretaria de Cultura estadual acertou na programação, criando a Praça do Cordel que incluindo um palco para apresentações musicais e declamações e ainda um espaço para exposição e venda de folhetos e livros de Cordel.

Gênero literário de raiz, descreve com rimas simples as mais variadas situações do cotidiano, episódios históricos e até situações da política atual, ilustrados por gravuras e desenhos simples, porém inconfundíveis.

Pensado como produto cultural transmissor de informações, percebemos que o folheto de literatura de cordel exatamente por ser folheto não está incluído nas pesquisas relativas ao mundo editorial e nos índices nacionais de leitura.

Não sendo livro, não tem ISBN e, portanto, fica excluído de qualquer contagem. No entanto, talvez o mercado pudesse começar a pensar sobre as contribuições deste gênero, tanto como produto como pela sua função no estímulo da leitura.

Praça do Cordel, dentro da programação da Bienal, reuniu apaixonados pela literatura de cordel | © Bernardo Gurbanov

O folheto de Cordel como recurso econômico
Qual é o alcance da economia do Cordel? Quantas famílias são sustentadas a partir da produção e comercialização do Cordel? Será que esta publicação sui generis não merece mais atenção?

Tudo indica que, salvo quando é compilado em livros, continuará invisível para a indústria editorial.

O público

A intensa frequência do público comprador aos feriados e finais de semana contrasta com a visita escolar promovida durante os dias úteis com vendas estacionadas em patamares insuficientes.

As crianças, sempre acompanhados pelos seus professores se depararam com todo tipo de livros, contações de histórias, exposições sobre ciência e até circo.

O público adulto, bem qualificado e familiarizado com o manuseio do livro, pôde usufruir de uma programação cultural abundante e de qualidade, com presença de autores nacionais e internacionais que nada deve a outras Bienais promovidas no Brasil.

Os expositores

A diferença das Bienais de São Paulo e Rio de Janeiro, a maioria dos expositores são empresas locais, distribuidoras, livrarias e editoras de pequeno porte.

Estandes sem ostentações arquitetônicas, nivelam a exposição em patamares aceitáveis conformando um evento que valoriza a literatura local e os seus atores, sem deixar de focar em autores de âmbito nacional e internacional.

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